
Queria (minto) esquecer-te e não sei como. Quem dera, fosse tão fácil, despir-me de ti como deste vestido. Na verdade, procuro-te em cada esplanada, a cada virar de esquina, em cada gota de chuva que me molha os lábios. Procuro a forma da tua boca na arquitectura da cidade, enquanto deslaço o sentimento agreste que antecede a perda. As saudades são reais e (acredito) não são só minhas. Mas contra isso nada podes fazer. Flutuam por aqui insensatas esperanças, embora eu cale o que de facto queria dizer-te: que não quero partilhar com ninguém os teus cabelos curtos por entre os meus dedos, a barba indolente com que me acaricias, o brilho dos teus olhos enquanto me observas, o doce dos teus lábios nos meus, o teu cheiro na minha pele. No fundo, queria (apenas) que acordássemos de manhã, lado a lado, brevemente completos, embalados por impressões difusas de felicidade. Mas não me iludo, não penses. Depois da explosão de vida que me foste, só preciso de saber que ainda me queres, que ainda te lembras do meu cheiro, que também tu sentes a falta daquele espaço fechado em que inventamos os minutos que não temos e brincamos aos casais. Porque é aí que me esqueço de quem sou, querendo-te para sempre e mais um dia.
.escrito por m.
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